quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O uso do Cabri nas séries iniciais do Ensino Fundamental

Dra. Sandra Magna
Professora Dra. Sandra Magina é PhD em Educação Matemática pelo Instituto de Educação, Universidade de Londres, Prof. do Mestrado da Educação Matemática da PUC-SP e bolsista pesquisadora do CNPQ.



PERGUNTA: Temos conhecimento de diversas pesquisas que enfocam o ensino-aprendizagem da Geometria e que usam o CABRI. Só no Mestrado em Educação Matemática da PUC/SP, por exemplo, existem 6 dissertações que discutem esse aplicativo como uma ferramenta poderosa na formalização de conceitos nessa área da Matemática. No entanto pouco ou nada tem sido dito, ou pesquisado, sobre o uso do CABRI nos dois primeiros ciclos do Ensino Fundamental.

Podemos então concluir que o CABRI é um aplicativo destinado para o ensino de uma Geometria mais analítica? Isto é, para a Geometria que é ensinada a partir da 5a série?

DRA. SANDRA MAGINA: Não, não podemos concluir isso. De fato existem poucas pesquisas abordando o uso do CABRI para as séries iniciais, mas elas estão começando a surgir.

Em 98 foi publicada na França uma tese de Doutoramento voltada para pesquisa em Geometria nessas séries, a qual usou CABRI.
Aqui no Brasil, tem o grupo do PROEM-PUC/SP que vem usando o CABRI na formação de conceitos geométricos básicos, com êxito. Podemos falar de 3 ações bem eficientes do grupo nessa direção:

a) um projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do ensino público, financiado pela FAPES, o qual foi concluído no final do ano passado e cujas publicações já estão saindo.

b) o livro da coleção PROEM "Explorando os Polígonos nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental" de minha autoria em parceria com Nielce Lobo da Costa, Lulu Healy & Ruy Pietropaolo, voltado para o professor I e que propõe trabalhos bastante interessantes para serem feitos nessas séries.

c) Os cursos, de 8 horas, com realização contínua, voltados para professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, não especialistas em Matemática, mesmo que com pouca familiaridade com a ferramenta computador.

PERGUNTA: Em sua opinião existe dificuldade para o uso do CABRI nas séries iniciais do Ensino Fundamental? Se sim, em que reside esta dificuldade e qual sua sugestão para superá-la?

DRA. SANDRA MAGINA: Eu não vejo nenhuma dificuldade nesse sentido, pelo contrário, vejo muitas vantagens em se introduzir os conceitos geométricos já a partir de uma abordagem dinâmica. O CABRI possibilita um bom trabalho com a geometria de transformação, principalmente os temas rotações e simetrias; o uso grade, que coloca uma malha em um sistema de coordenadas, em tudo é superior ao papel milimetrado.

Especificamente para o uso com crianças menores as novas ferramentas disponíveis no CABRI II - animação, preenchimento de cor e rastro - somado com uma maior quantidade de cores e espessura do traço, tanto estimula visualmente a criança quanto motiva e ainda facilita na compreensão dos atributos geométricos.

Eu acredito que a maior dificuldade reside mesmo no pouco preparo que o professor dessas séries têm sobre o conteúdo geométrico, o que poderia levar a um uso do CABRI como um instrumento de desenho e não de construção de conceitos geométricos. Mas também isso tem seu lado positivo, pois aprender Geometria no ambiente CABRI pode ser uma divertida aventura para esses professores.

Para concluir, eu gostaria de frisar que, embora eu seja totalmente a favor do uso desta ferramenta em sala de aula, isto não significa afirmar que o seu uso excluiria o uso de outras ferramentas educacionais no ensino da Geometria, tais como sólidos geométricos, barbantes, régua, canudos, objetos do cotidiano, etc.

Na verdade, apesar de ver o CABRI como um instrumento poderoso, ele, por si só, não basta e nem garante o processo ensino-aprendizagem. É preciso a presença do professor como mediador desse processo, como aquele que definirá quando, como e onde usar esta ou aquela ferramenta; é ele quem elaborará as atividades visando a interação do aluno com o objeto geométrico.

PERGUNTA: Quando pensa-se no uso da informática para as séries iniciais, pensa-se imediatamente em trabalhar com a linguagem LOGO ou com o com aplicativos de pintura.

A profa. lançou recentemente um livro destinado a professores das séries iniciais, onde a Sra. propõe trabalhar com o CABRI nessas séries.

Isto significa que sua proposta é a substituição do LOGO pelo CABRI? Se sim por que? Se não, como a profa. analisa o uso dessas duas ferramentas?

DRA. SANDRA MAGINA: Novamente eu inicio minha resposta negando. Negando não a publicação do livro, mas sim a substituição do uso do LOGO por CABRI. O CABRI é um micro-mundo geométrico cuja influência do ambiente LOGO é visível. Todos dois têm um suporte teórico construtivista, nos quais o aluno interage e se apropria da ferramenta no seu processo de construção do conhecimento. O LOGO, por se tratar de uma linguagem computacional, é mais amplo, voltado não apenas para conteúdos de Exatas (Matemática, Física), mas também para humanas (como linguagem por exemplo). Eu diria que eles se somam, são ferramentas importantes e poderosas que estão disponíveis para a Educação desde as séries iniciais.

Aproveito para, mais uma vez, enfatizar que não será nem o LOGO, nem o CABRI a trazer soluções definitivas e estáticas para a formação de conceitos geométricos. Isto tem que estar sempre na mente do educador. Eles são ferramentas e ferramentas só executam tarefas sob supervisão/orientação humana.

Outro ponto importante a se considerar é que, embora existam ferramentas mais poderosas, mais eficientes, que outras - o que não é o caso dessas duas ferramentas - elas sempre dependem do homem. Vejamos um exemplo: eu tenho em casa um multiprocessador que veio para substituir o meu antigo liqüidificador. Na loja o vendedor me afirmou que ele faz tudo o que o liqüidificador faz e muito mais, sendo portanto mais poderoso. Com o liqüidificador eu sei fazer vitaminas de frutas, sopa e maionese. De fato, com o multiprocessador eu posso fazer todas essas coisas e mais moer carne e posso ainda cortar em fatias cebola, batata, entre outras coisas. O multiprocessador é, então, uma ferramenta bem mais poderosa que o liquidificador. Só que tem um problema eu não sei usá-lo!!! E aí, qual das duas ferramentas tem mais poder, é mais eficiente na minha mão?

Não é porque eu tenho um piano em casa que vou garantir a composição de uma sinfonia; da mesma forma que um martelo não garante a construção de uma casa.

Por isso eu insisto na importância de se investir na formação do professor. No caso do trabalho usando a tecnologia, é imprescindível que ele domine a ferramenta - conheça seus recursos - mas igualmente é fundamental que ele discuta o seu uso tanto do ponto de vista pedagógico como de conteúdo. 

Caro leitor, qual é a parte do texto que você concorda com  Dra. Sandra Magna?  E qual você discorda? Porque? 

Gostaria de acrescenta algo?

Participe, deixe seu comentário.



Referência:

Site: Cabri
Site da imagem: PUCSP
Montangem: Matheusmáthica

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