terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ubiratan D' Ambrosio

Prof. Ubiratan
Ubiratan D' Ambrosio Professor emérito de Matemática da Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, presidente do ISGEm/International Study Group on Ethonomathematics e presidente da Sociedade Brasileira de História da Matemática




Pergunta: Em que momento a tecnologia deve ser inserida no processo educacional de uma criança?

Prof. Ubiratan: "Eu costumo dizer que na hora que você dá uma mamadeira para uma criança, dê uma calculadora." Isso para enfatizar que a tecnologia está incorporada na vida da criança, pois ela está presente em toda nossa sociedade. Não deve haver hesitação na utilização da tecnologia. Quando é que você dá um relógio para uma criança? No momento em que ela se interessa pelo tempo. É o momento no qual ela passa a ter alguma atividade que tem uma hora para ser realizada.

Na hora que a criança quer ouvir uma música, ela tem um lugar onde ela aperta um botão para ouvir o rádio ou coloca um CD para funcionar. Você tem que desmistificar a participação da tecnologia no dia a dia das pessoas. A tecnologia tem que se tornar algo espontâneo, natural. Acho que esta é a grande característica dessa civilização tecnológica que nós vivemos hoje.    


Pergunta: Com a tecnologia em sala de aula, qual o papel do professor e do aluno?  Existe alguma mudança significativa? Quais são os desafios?

Prof. Ubiratan
: Os professores e os pais são muito menos ágeis que os mais jovens. É uma questão de geração. Os adultos levam muito mais tempo para assimilar a naturalidade da tecnologia, pois isso é novo para eles. Já as crianças nascem com isso. Essa é uma das razões da lentidão do uso e sobretudo da aceitação da tecnologia por grande parte dos adultos. No fundo, existe o medo de perder a autoridade, pois as crianças dominam os instrumentos com mais facilidade. Isso assusta sobretudo os professores.

Na presença da tecnologia, hoje inevitável, a grande mudança é fazer da educação um trabalho cooperativo. Educação hoje não é mais o professor passar algo para o indivíduo que está lá só para receber. O aluno e o professor estão num processo de troca de conhecimentos, de experiências e de expectativas. O aluno não entra na sala de aula somente para receber. Veja, uma criança de 10-12 anos quando olha o futuro, pensa em 2050. Quando eu penso em futuro, se eu pensar em 2010, estarei sendo muito arrojado. Educação tem tudo a ver com o futuro e o futuro está na cabeça das crianças e não na cabeça dos velhos. Se o professor está preparando as crianças achando que o futuro será parecido com o seu passado, estará sendo totalmente ingênuo. Na verdade o processo educacional é um processo de negociação, onde professores e alunos devem negociar trocas de conhecimentos, de experiências e de expectativas. Isso deve substituir uma relação de autoridade, de timidez e de passividade. Se o professor entrar no processo de negociar, as crianças vão se comportar muito melhor. Quando a criança olha para uma pessoa mais velha, ela sabe que essa pessoa viveu mais, conhece mais coisas do passado do que ela. Não existe nada melhor do que você conversar com alguém e saber que essa pessoa viu um acontecimento. As crianças são sensíveis a isso. Daí o interesse pelos contadores de histórias. Mas no momento que o professor tenta mostrar certeza sobre o que, evidentemente, ele não sabe e quase certamente não chegará lá, ele arrisca perder o respeito das crianças.

O professor tem que criar um clima de respeito mútuo. Como professor, respeite a criança que está pensando coisas de 2050, e ela o respeitará porque você viu coisas de 1970. Acho que é isso que deve negociado e trabalhado. O aluno dessa maneira também se sentirá valorizado. O professor chega assim em sala de aula, com a expectativa de utilizar um instrumento da geração do aluno, instrumento que o aluno usa no dia a dia. Para isso, o professor preciso do apoio do aluno e é nesse momento que se cria um clima mais favorável à educação.


Pergunta: Como o Sr. vê a aplicação de tecnologia no ensino da matemática?

Prof. Ubiratan: Vou pegar como exemplo o caso da geometria. Grande parte da matemática que a gente faz, foi desenvolvida com pauzinho escrevendo na areia e depois com papel e lápis, quadro-negro e giz. Sempre tivemos à disposição uma borracha ou um apagador. A dinâmica da utilização dos instrumentos com os quais trabalhávamos a geometria era outra. Hoje, faz-se geometria com o mouse, o que é completamente diferente de fazer geometria com o papel e o lápis, ou com o giz e quadro-negro. Tudo é hoje muito diferente e tudo isso faz com que as representações do espaço, que é ponto de partida para a geometria, sejam diferentes. A geometria nasce de representarmos um fato e trabalharmos sobre essa representação. Essa representação hoje se faz hoje de outra maneira. O mouse não é lápis nem giz. Possibilita outras maneiras de trabalhar. Essa tecnologia traz utilidades que não existiam antes, e devemos utili-zá-las. Se as soluções tecnológicas facilitam nossa vida em vários setores da sociedade, porque não também no ato de aprender?


Pergunta: O que falta para uma maior disseminação do uso de tecnologia nas escolas, tanto nas escolas pública quanto nas privadas? Equipamentos, capacitação?

Prof. Ubiratan: Eu acho que tem havido muito esforço para colocar equipamentos nas escolas. Quando eu participava de projetos educacionais e dava pareceres sobre projetos, nunca notava falta de equipamentos nem falta de programas de treinamento. Mas sempre notava falta de medidas para mudar a atitude dos professores. Não adianta dar equipamento nem treinamento, se não houver mudança de atitude. É o momento de quebrar preconceitos, medo, quebrar o paradigma e passar para a educação de cooperação. Esse é o caminho.


Caro leitor, qual é a parte do texto que você concorda com Prof. Ubiratan?  E qual você discorda? Porque? 

Gostaria de acrescenta algo?

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Referência:

Site: Cabri

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