segunda-feira, 21 de março de 2011

Matemáticos têm emprego garantido

João Lucas Barbosa
 O professor, João Lucas, comenta temas como o mercado de trabalho e a situação do ensino da matemática no Brasil

A matemática continua sendo o bicho-de-sete-cabeças de muitos estudantes. Nos cursos de graduação sobram vagas. Mas também sobram vagas no mercado de trabalho. É o que afirma o professor João Lucas Barbosa, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática. Pós-doutor pela Universidade de Stanford, Barbosa esteve na Universidade Federal do Pará onde proferiu a palestra "O Teorema de Pitágoras é mesmo de Pitágoras?".

Existe uma data em que se possa dizer que ocorreu o nascimento da matemática?

O nascimento da matemática é quase tão antigo quanto o nascimento da linguagem e da arte. Ela surgiu por volta de 5.000 anos a.C. no Egito, mas aproximadamente na mesma época apareceu também nas áreas do Japão e da China. Por volta de 3.000 a.C. já existiam obras de engenharia, como as pirâmides, que revelam um conhecimento matemático muito forte.

O senhor defende a tese de que o Teorema de Pitágoras não foi descoberto pelo Pitágoras...

O Teorema de Pitágoras já era conhecido pelos egípcios, três civilizações antes da grega. E foi conhecido na sua totalidade, na forma direta e inversa, pelos assírios e babilônios. Pitágoras foi um líder político-religioso e criou o movimento chamado "Pitagorismo". Esse movimento foi responsável por três grandes coisas. A primeira foi a criação da Teoria Musical. O violão ou o piano não são feitos do nada, eles se baseiam em conhecimento matemático. A segunda foi a Teoria dos Números e a terceira foi a descoberta dos números não racionais. Acho que o Teorema de Pitágoras é associado a ele por causa da descoberta da raiz quadrada de 2, que é um número irracional. Quando eles tinham um triângulo retângulo com dois catetos iguais a 1, a hipotenusa deveria ser um número que elevado ao quadrado fosse igual a 2. Quando eles perceberam que não poderiam mensurar essa quantidade toda, a cosmologia deles caiu, pois o universo era tido pelos gregos como um conjunto de partículas sólidas onde tudo era possível de ser mensurado.

Quais as áreas onde as descobertas de Pitágoras ainda são muito relevantes?
 

A Teoria dos Números é algo extremamente importante. Na segurança bancária, por exemplo, são usados códigos. As informações enviadas ao banco são primeiramente codificadas com números que ninguém sabe e depois decodificadas. Infelizmente há pessoas muito inteligentes que conseguem quebrar esses códigos.

Qual a realidade do mercado para o profissional de matemática no Brasil?

Há duas grandes vertentes de emprego para o profissional da matemática. A primeira é ele ser professor universitário e a segunda é trabalhar em alguma empresa. E ainda tem o licenciado, que trabalha no ensino médio e secundário. Mas professor universitário é o emprego mais comum. Na matemática há muito mais vaga de emprego que candidatos. O número de doutores que está sendo formado não chega a cobrir os que estão se aposentando. Para aqueles que têm mestrado, a oferta de empregos já é muito grande. As universidades privadas brigam por professores que têm mestrado. Os que têm doutorado, nem se fala... não dá nem para as universidades federais.


E existem vagas na pós-graduação para formar esses profissionais?

Existem. Todos os cursos de pós-graduação estão funcionando a "meio-pau", como se diz. Temos um parque enorme estabelecido e todos rodando abaixo do que poderiam. Há doutorados como o da USP, o qual tem mais de uma centena de professores e poderiam estar funcionando com quase 300 alunos, mas estão funcionando com menos de 60. O único curso que funciona com toda a sua capacidade é o da Unicamp, porque tem uma marca muito forte. Espaço para formação tem bastante. Poderia acomodar mais alunos sem ser necessário alterar os cursos e quase sem nenhuma despesa a mais.

No Brasil, há um fosso entre as regiões Norte e Sul no que diz respeito ao desenvolvimento científico. Na matemática também se observa isso?

Essa mesma questão pode ser colocada em relação a países. Vou primeiro falar sobre isso. Em que posição o Brasil estaria em relação ao contexto internacional? O Brasil progrediu muito. A matemática brasileira tem pouco mais de 50 anos de idade. Os primeiros doutores de matemática estão vivos. Existe uma classificação internacional da União Internacional de Matemática que classifica os países de acordo com sua produção nessa ciência. Os níveis vão de 1 a 5 e o Brasil, em 50 anos, passou do nível 1 ao 4. E, além do mais, o prestígio da matemática brasileira no exterior é muito grande. Temos o Instituto Brasileiro de Matemática Pura e Aplicada que é conhecido no mundo inteiro. Com relação à diferença entre os estados brasileiros, não é só dizer "São Paulo está mais desenvolvido que o Ceará, ou mais que o Pará". Você vai encontrar, por exemplo, aqui no Pará, na UFPA, profissionais que estão produzindo matemática da mais alta qualidade, publicando em revistas internacionais de primeira linha. Agora se medirmos isso pelo número de doutores, São Paulo leva vantagem enorme. Mas não significa dizer que as grandes invenções matemáticas vão ser feitas em São Paulo, depende do trabalho individual dos professores. Em contrapartida, o ensino brasileiro de matemática vai muito mal. E, nessa questão, o ensino daqui certamente não é pior do que o de São Paulo.


A matemática ainda é um bicho de-sete-cabeças para os estudantes?

Sim, infelizmente. Mas quem consegue aprender a matemática considera que ela é a ciência mais fácil do mundo. E por uma razão muito simples: na matemática você não precisa decorar nada. É uma ciência lógica, você deduz tudo. E ela é uma linguagem. A linguagem das ciências. No vestibular, os alunos se dividem entre os que gostam de matemática e os que não gostam. Por que se você não gosta de matemática, você vai ter dificuldades em física, química, biologia e no futuro também em sociologia, psicologia... Porque todas as ciências estão evoluindo e usam cada vez mais matemática. É uma questão de tempo. Na Sociedade Brasileira de Matemática, nós acreditamos que o problema não está no aluno. Em todos os testes que aplicamos, encontramos alunos com potencial gigantesco para aprender matemática. Agora, se você tem um professor que diz que matemática é difícil ainda quando você é muito jovem, você vai acreditar pro resto da vida que matemática é difícil. Se ele lhe coloca um problema que está muito acima da sua capacidade de resolver, você vai considerar que aquilo não é uma das coisas mais fáceis que você pode aprender na vida. É uma questão de ajuste do ensino.

O que a SBM está fazendo para mudar a situação com relação ao ensino?

A SBM tem se preocupado bastante com a produção de textos. Produção de material bibliográfico. Há 50 anos, toda a literatura que existia no país era em língua inglesa, francesa e até em alemão. Hoje em dia, os alunos das universidades estudam tudo em português, até terminar o doutorado. É um trabalho gigantesco que foi feito em 50 anos. E agora vamos entrar na parte dos cursos básicos: Cálculo, Álgebra Linear e outros cursos que são dados para as massas na universidade. E também já temos uma coleção bem grande de livros, mais de 20 títulos, para professores do ensino médio. São livros que podem funcionar como auxílio às suas aulas. A Sociedade está começando agora a entrar no mercado paradidático. É uma coisa que estamos fazendo com muito cuidado, porque é um mercado de 24 milhões de crianças.


Qual o perfil que o profissional de matemática deve ter hoje em dia?

O profissional de matemática hoje tem que ter doutorado, o bacharel é uma profissão incompleta. Para trabalhar nas universidades ou em empresas, ele tem que ter doutorado. Agora se ele vai para o ensino médio, basta ter uma graduação, mas assim mesmo eu recomendaria que ele de vez em quando voltasse à universidade. Hoje em dia, há a possibilidade de as pessoas formadas voltarem à universidade para fazer novas disciplinas, para se manterem atualizadas. E isso é importante porque pode se estabelecer um link entre a universidade e o ensino médio, o que não existe atualmente.


O senhor acha que a distância entre a universidade e o ensino médio seja um fator da baixa qualidade do ensino?

É um dos problemas e é sério. A universidade tem ficado muito isolada relativamente ao ensino médio. E isso é prejudicial ao ensino. O ideal era que a universidade fosse mais uma etapa do percurso do ensino e onde, de vez em quando, os professores circulassem.

Nos cursos de graduação, existem vagas sobrando como na pós-graduação?

Na graduação, mal se preenchem as vagas. Na maioria das universidades, elas são preenchidas ainda com sobras. Mas, em algumas universidades, os cursos lotam rapidamente e em outras, como a Unicamp, ainda há uma concorrência em torno de 10 alunos por vaga.

por Jones Santos


Caro leitor, qual é a parte do texto que você concorda com o  profº João?  E qual você discorda? Por quê? 
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Participe, deixe seu comentário.
 
Referência:


Site: UFPA- Universidade Federal do Pará

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