domingo, 3 de janeiro de 2010

Zenão de Eleia

Zenão
Zenão de Eleia (por volta de 496-488 a.c. -435-425 a.c.)

Natural de Eleia, cidade grega no sul de Itália, filho de Teleutágoras, conterrâneo e discípulo de Parménides, Zenão nasceu por volta de 496-488 antes de Cristo e morreu por volta de 435-425 antes de Cristo, tendo-se notabilizado pela metodologia a que recorreu em defesa das ideias do seu mestre: em lugar de tentar provar as teses que este professava, procurou deduzir as consequências contraditórias das hipóteses dos adversários, recorrendo a uma técnica lógica similar à que viria a ser conhecida como "redução ao absurdo".

A obra pela qual ele ficou conhecido foi escrita na sua juventude e publicada contra a sua vontade (Epicheiremata). Nesta obra, defendeu o ser uno, contínuo e indivisível de Parménides contra o ser múltiplo, descontínuo e divisível dos pitagóricos (Zenão escreveu a sua obra na sua juventude, portanto ainda na Eleia, na actual Itália, e aí os únicos que poderiam criticar o seu mestre Parménides seriam os pitagóricos, contudo estes não eram os únicos a defenderem a hipótese da pluralidade em oposição à hipótese do Uno, defendida pela Escola da Eleia, pelo que, esta obra poderia não pretender criticar especificamente os pitagóricos). Supõe-se que esta obra tenha sido escrita antes de 460 antes de Cristo, e é possível que tenha escrito obras posteriormente.

A grande fama de Zenão proveio dos seus paradoxos, explanados no seu livro. Apenas 200 palavras sobreviveram da sua obra, pelo que a maioria dos registos dos seus ensinamentos chegaram aos dias de hoje por vias secundárias, nomeadamente através de Aristóteles e Simplicius. Estes paradoxos tinham o objectivo de defender a teoria do seu mestre Parménides de que a realidade era única, imutável e imóvel, pelo que mudança, movimento, tempo e pluralidade não passariam de ilusões. A teoria de Parménides apresentava conclusões que contradiziam o que transmitiam os sentidos, o objectivo de Zenão não era apresentar provas que reforçassem a teoria em si, mas sim mostrar que as teorias opostas também levavam a contradições.

Por volta de 450 a.C. Zenão acompanhou o seu professor e amigo, o filósofo Parménides numa viagem a Atenas, onde conheceu Sócrates e causou impressão suficiente para aparecer num dos livros de Platão, o diálogo Parménides, no qual Zenão tem uma discussão filosófica com Sócrates, nessa altura ainda jovem. É aliás deste diálogo que provem a maior fonte de conhecimento sobre Zenão. Segundo Platão, nesta altura, Zenão teria por volta de 40 anos, era alto e de aparência elegante
 
Ensinou em Atenas por diversos anos antes de regressar a Eleia. Há quem diga que durante a sua estadia em Atenas, terá revelado as suas doutrinas a pessoas como Péricles e Callias por 100 minae (antiga moeda). Zenão não só era muito respeitado no seu Estado, como também era em geral célebre e muito respeitado enquanto professor, chegando até a existir homens que percorriam muitos quilómetros para poder aprender com ele.

Relativamente à parte final da sua vida, diz-se que terá conspirado contra um tirano pela libertação de um Estado, contudo, não se tem certeza sobre o local (se na Eleia ou talvez na Sicília) nem sobre quem seria o tirano (é por alguns apontado que seria Nearco o nome do tirano), nem sobre as circunstâncias e razão da conspiração. A conjuração terá sido traída e Zenão capturado e torturado até à morte diante do povo da cidade. Os relatos desta tortura pública assumem contornos de lenda, sendo discutível até que ponto se terão de facto passado. É dito que quando lhe perguntaram os nomes dos outros conjuradores, e ao perguntar pelos inimigos do Estado, Zenão indicou todos os amigos do tirano como participantes da conjuração. Diz-se ainda que ele fingiu querer dizer ainda algo aos ouvidos do tirano, mordendo-lhe, no entanto, a orelha e cerrando os dentes até ter sido trucidado pelos outros. Outros narram que ele teria ferrado os dentes em seu nariz, segurando-o assim. Outros ainda dizem que, tendo suas respostas sido seguidas de enormes torturas, ele cortou a língua com os próprios dentes e a cuspiu no rosto do tirano, para lhe mostrar que dele nada arrancaria. Deste  modo, as poderosas repreensões ou também as torturas horríveis e a morte de Zenão mobilizaram os cidadãos e levantaram-lhes o ânimo, para caírem sobre o tirano, matá-lo e assim libertar-se.

Não tendo concebido nenhum sistema próprio, a importância de Zenão deriva de ter sido o primeiro a propor um método de refutação estritamente formal com valor universal. A sua preocupação crítica aliada à argúcia que exibiu como polemista, valeu-lhe o ter sido considerado por Aristóteles como fundador da dialéctica.  

Zenão era sobretudo filósofo e lógico e não tanto matemático, mas os seus paradoxos contribuíram para o desenvolvimento do rigor lógico e matemático e foram insolúveis até ao desenvolvimento dos conceitos de continuidade e infinito. Ele foi o primeiro grande questionador na história da matemática, os seus paradoxos espantaram matemáticos durante séculos e a tentativa de resolvê-los conduziu a numerosas descobertas. 

Os quatro mais conhecidos argumentos de Zenão

Dentre os 40, que reduzia as idéias contrárias ao absurdo, são o da dicotomia, o de Aquiles, o da flecha e o do estádio.

No de Aquiles, demonstra matematicamente, que o movimento não existe, é apenas uma aparência. Aquiles, o corredor mais rápido da mitologia, dá à tartaruga, símbolo da lentidão, uma vantagem de um metro.

Todos, desde a época de Zenão, repetem que Aquiles venceria a tartaruga. Porém, Zenão afirma o contrário, pois Aquiles teria que, antes de tudo, alcançar o ponto de partida da tartaruga que saiu na frente. E assim, pela lógica e paradoxalmente, o mais lento venceria o mais rápido.

Outra aporia paradoxal muito conhecida de Zenão é a da flecha, que não pode chegar a sua meta, porque antes tem de passar por um ponto intermediário, por outro intermediário e assim sucessivamente, passando por infinitos pontos em que a flecha está imóvel no ar, não chegando ao seu alvo.

Enfim, para Zenão, o que vemos na nossa parca realidade, e que percebemos pelas sensações, não passa de mera ilusão. Assim, surge a dialética de que “ocupar um espaço” é o mesmo que “estar em repouso”. A antítese “movimento e estar parado” nos encaminha ao paradoxo “movimento é igual a estar parado”, chegando à conclusão de que, à luz da razão, não existe a multiplicidade e o devir.

Com este pensamento Zenão acaba por discutir o Ser real (ontológico), porque para ele é absurda, portanto ilógica, a idéia de que o Ser pode sofrer transformação e ser múltiplo já que ele é finito. Entretanto, para muitos, absurda é a opinião de que o mundo seja estático quando olhamos ao nosso redor e percebemos tanta mutação, o nascer e o morrer, o dia e a noite etc.



Referência:


Site:IEUL
Site: Kplus

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